Ter a possibilidade de viajar e conhecer outros espaços é
uma oportunidade única. Mesmo que para locais próximos uma viagem requer um
determinado esforço e certos sacrifícios. Acredito que é justamente por estas
abdicações que uma viagem pode abrir caminhos para novas experiências e
conhecimentos.
No universo tudo está em constante movimento, num fluxo
contínuo de criação e destruição, ordem e caos. Não podemos manter algo armazenado
por muito tempo que logo sua forma já não mais será a mesma. Se estivermos
apegados a forma, quando chegar o momento de sua transformação ou decadência,
sentiremos o sofrimento no coração.
A tradução da palavra shugyou (修行) é “busca do conhecimento, estudo, aprendizagem,
formação, práticas ascéticas, ascética, prática da disciplina”, que
é composta por dois kanji (ideogramas):
修 ‘shu’ (da
palavra: 修める osameru) que pode ser
traduzido como “estudar, completar (um curso), cultivar, dominar, dar ordem (a
vida)”, ou também como “conduzir-se bem”.
行 ‘gyou’ (da
palavra: 行く iku) que é traduzido como “ir,
ir para uma jornada”.
Desta forma, podemos entender a palavra shugyou como “ir
para uma jornada de estudos” ou “conduzir-se bem por uma jornada”. Neste ponto,
necessitamos refletir sobre o que é conduzir-se bem por uma jornada de estudos.
Além das questões óbvias sobre ética e respeito com
diferentes locais, culturas e maneiras de uma região que não é a sua, percebo
que para entregar-se à este tipo de jornada para estudos são necessários alguns cuidados.
Como havíamos percebido é necessário uma “entrega”, um “sacrifício”
de certas coisas que provavelmente resultará num desconforto e incômodo. Uma
viagem requer dormir fora de sua casa, longe de suas coisas, da alimentação com
que está acostumado, as vezes num idioma que não é o seu e com costumes que
você não reconhece. Tudo isso gera dor e sofrimento nublando nosso caminho e
dificultando nossa busca.
É necessário matarmos à nós próprios para que o caminho (道 michi) nos conduza de maneira natural,
pelo próprio fluxo da natureza (自然お流れ
shizen no nagare), abrindo assim espaço suficiente para absorvermos as novas
experiências e os novos conhecimentos que dificilmente veríamos em uma mente
nublada pelo apego.
Não podemos esquecer também que esta jornada de estudos é
uma ação e que consequentemente resultará numa reação posterior, o que chamamos
de Karma. Da mesma forma que em uma receita de bolo juntamos ingredientes,
misturamos condimentos, preparamos as formas e colocamos em uma situação
apropriada para que todas aquelas escolhas anteriores produzam algo que nunca
poderíamos imaginar, estas ações de sacrifício e empenho produzirão outras
ações, como uma enorme rede que liga tudo e todos.
A partir desta observação, apresento uma segunda forma de se
escrever a palavra shugyou:
修業, composto do mesmo primeiro
caractere修 ‘shu’,
como na tradução anterior e trocando o segundo caractere para 業 ‘gyou’, que possui duas leituras:
わざ (waza): que significa “ação,
ato ou desempenho do trabalho”.
ごう (gou): que é a palavra japonesa para ‘karma’.
ごう (gou): que é a palavra japonesa para ‘karma’.
Portanto, podemos entender ‘shugyo’ como sacrificar nossos
apegos em jornada de estudos e busca de conhecimento para dar ordem à nossa
vida, nos conduzindo de maneira adequada e refletindo sobre cada ação que
fazemos, de coração aberto para os resultados pesteriores.
Acredito que o ‘shugyou’, independente da natureza da
prática (no nosso caso: ‘musha’, dos guerreiros) é uma das maneiras de nos
entregarmos para o fluxo natural do universo.
Shidoshi-ho Giuliano Di Sevo
Seigi Dojo
Seigi Dojo
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