sexta-feira, 25 de maio de 2012

Jibun de Narai - 自分で習い



Certa vez tive contato com uma frase que me fez rever todos os conceitos que tinha sobre educação e aprendizado, que dizia: “O professor não ensina, mas sim, disponibiliza o conhecimento”.
Tendo em conta que um professor pode ser qualquer ser, animado ou inanimado, físico ou abstrato, e que a cada passo podemos nos deparar com algo que nos transmita um ensinamento, considerar que o conhecimento está ao nosso redor e basta captura-lo não se transforma em algo de difícil entendimento.


Numa das traduções poetizadas do Shikin Haramitsu Dai Komyou encontramos a consideração de que o conhecimento é peça fundamental para o nosso crescimento: “Todo conhecimento é sagrado e fornece a chave para um mundo melhor”, o que de fato pode oferecer muitas possibilidades para nossa vida.
Primeiramente gostaria de apresentar algumas considerações sobre “conhecimento”. A palavra Shikin, do Shikin Haramitsu, possui caracteres japoneses que se referem às sensações e percepções dos sentidos. Todas estas sensações e percepções são absorvidas por nossas seis vias de entrada (Rokkon – 六根) que são: olfato, audição, paladar, tato, visão e percepção mental.

Deste ponto de vista, o conhecimento é mais do que apenas um substantivo sobre “saber algo”, como se o ato de conhecer fosse passivo. Entendendo que para este conhecimento é necessário a participação dos seis sentidos, deduzimos que conhecer é experimentar, ou seja, uma ação que vem de quem experimenta até o que é experimentado.

A concepção usual de conhecimento pode ser um pouco enganosa, levando-nos a entender que o conhecer é uma ação que vem do que se conhece até quem está conhecendo, um fluxo contrário ao que acabamos de entender. Portanto, a relação entre conhecedor e o que se conhece é uma relação ativa ao invés de passiva.
Ao invés de utilizarmos a palavra “conhecimento”, gostaria de apresentar uma alternativa em japonês que acredito encaixar-se de forma mais adequada às nossas finalidades: Taiken - 体験.

A palavra taiken é utilizada com o significado de “experiência”, porém, uma experiência ativa e que depende do indivíduo e seu próprio corpo. Tai (), que também poder ser lido como karada, significa corpo e Ken (), que poder ser lido como tamesu, significa ‘testar, provar’.

Conhecer, na sua forma mais pura, significa experimentar com seu próprio corpo, entrar em contato de fato com o fenômeno que se pretende conhecer. Sem o contato entre os seres não há troca de energias que complementarão o aprendizado. É por este motivo que a prática em grupo é uma prática extremamente importante.

Entendendo que para conhecer algo, na forma mais pura, é necessário a experiência (ou experimentação, como gosto de colocar), voltemos à questão do “ensinar”.

Apesar de estarmos todos ligados, o corpo de cada ser é único, responsável pela absorção de sensações de cada indivíduo. Por este motivo, transmitir seu próprio conhecimento (experiência) para outro indivíduo é uma tarefa impossível. Não há possibilidade de transmissão das experiências de vida, afinal as experiências foram absorvidas com aquele corpo por aquele indivíduo.

Somente se a experiência (taiken) do indivíduo que aprende experimentar de forma similar a experiência (taiken) do indivíduo que ensina que o “aprender” estará se realizando de fato. Com isso, o ato de aprender depende principalmente do ato de experimentar de cada indivíduo.

Como exemplo podemos pensar no ato de aprender matemática: O professor sabe realizar os cálculos aritméticos que pretende ensinar aos seus alunos pois já os vivenciou e praticou com suas próprias mãos. Os alunos somente saberão de fato quando houver ‘taiken’, ou seja, a experiência do corpo. Com isso, mesmo os conhecimentos abstratos como conceitos filosóficos, só serão aprendidos quando houver o exercício e a experiência mental.

Quando existe a disposição de um professor em ensinar, esta oportunidade deve ser agarrada com toda força para que possamos o máximo a por meio de nossas próprias forças. O conhecimento está ali, já está vivenciado pelo professor, basta a dedicação de nossa parte em exercitar o máximo possível.

É isto que chamo de ‘jibun de narai’ (自分で習い), ou seja, “aprender por conta própria”. Apesar de esta frase significar algo como “aprender sozinho” (o que não é real, pois dependemos de muitas variáveis para isto), gosto de usá-la devido ao kanji Jibun (), que pode ser lido mizukara, e representa o próprio indivíduo.

Portanto, vamos nos empenhar em aprendermos por nós próprios, com nossos próprios esforços algo que nos é ensinado, pois é a única forma de absorvermos de coração.

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