domingo, 31 de julho de 2011

A prática

A prática
Caminhar na prática é caminhar na vida. Caminhar na vida é caminhar na prática. Não há fatores que as dissociem ou que as tornem uma coisa e outra coisa. Não ver com os olhos, nem ouvir com os ouvidos, não degustar com a língua, não cheirar com o nariz e não sentir com os dedos. Quando é assim, prática é vida e vida é prática.
Frente a algo que não se consegue praticar, primeiramente reconheça a dificuldade. Reconhecer a dificuldade é livrar-se do cômodo, pois assim é possível livrar-se dos velhos hábitos e dar lugar a novas possibilidades. Dificuldade é nova possibilidade e nova possibilidade é dificuldade. Com a abertura para novas possibilidades, então, exercite isso nos três níveis de entendimento, ou nos três mundos, chamado San Gai (三界): Corpo (体-karada), mente (頭-atama) e espírito (心-kokoro). Quando algo vem à nossa frente, temos a possibilidade de nos conectarmos por estes três mundos. Pratique com o corpo, entenda com a mente e absorva com o espírito.
É necessário praticar com o corpo até que seja como beber água para os animais. É preciso praticar com a mente até que seja como falar para os humanos. É preciso praticar com o espírito até que seja como viver para os seres vivos. Este é o estado Shizen (自然), a sua própria natureza e o seu verdadeiro ser.
É importante encaramos as novas possibilidades como problemas que surgem na prática, assim elas podem ser resolvidas praticando-as com o San Gai. Com certeza esta prática mostrará mais dificuldades, que logo parecerão impraticáveis. Se continuarmos enxergando com os olhos, ouvindo com os ouvidos, degustando com a língua, cheirando com o nariz e sentindo com os dedos, não será possível ver a prática como vida e a vida como prática. Quando isso ocorre entra-se num estado cíclico de encarar a dificuldade da posição cômoda sem superá-la.
É necessária uma tensão ininterrupta que traga forças para nos livrarmos do cômodo e dar lugar a novas possibilidades. A energia desta tensão contínua vem do ato de transcender a visão comum, a audição comum, o olfato comum, o paladar comum e o tato comum que nos faz perceber que a vida é prática e a prática é vida, de que não há fatores que as tornem uma coisa e outra coisa.
A prática é um problema a ser superado num ato de reconhecer com o San Gai ininterruptamente.  Fazer com que todas as experiências encontradas na prática sejam desfrutadas ao máximo para que possamos ver além da visão com os olhos, além do som com os ouvidos, além do gosto com a língua, além do cheiro com o nariz e além da sensação com os dedos. Este é o estado Shizen.
Sinta além para prosseguir caminhando, encarando dificuldades como novas possibilidades, e assim, poder assumir a postura de Sho Shin Sha (初心者), o sentimento de um iniciante que encara a prática sem distinguir o que é difícil ou fácil, navegando por um grande mar que está sempre em movimento, vezes calmo e vezes agitado.
Praticar é como levantar da cama num amanhã fria para tirar da terra o que te sustenta e te faz bem.

Um comentário:

  1. Nossa esse post foi ótimo!!!
    entendo como se todos nos sem distinção fossemos eternos Mukyu!! sim claro eternos iniciantes, nao importa a cor a raça ou o nivel pois todo ser humano tem a necessidade de estar aprendendo sempre, pois sempre estamos aprendendo nao importa o que, e uma pessoa que ignora isso se torna obsoleto e arrogante.
    como tem uma frase de Einstein:
    "A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original."

    R.H.R.S

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